Por Bruno Vital / Tribuna do Norte
Governo do Rio Grande do Norte busca um investimento de R$ 921 milhões para reativar o antigo ramal ferroviário Mossoró-Sousa, desativado na década de 1980. A ideia é utilizar a ferrovia como rota de escoamento produtivo e transporte de passageiros
O Governo do Rio Grande do Norte busca um investimento de R$ 921 milhões para reativar o antigo ramal ferroviário Mossoró-Sousa, desativado na década de 1980. A ideia é utilizar a ferrovia como rota de escoamento produtivo e transporte de passageiros, com cerca de 350 km, interligando o Estado com outras redes da região Nordeste.
Desta forma, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) pretende conectar o Rio Grande do Norte aos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Piauí e Maranhão. A ideia é antiga e ganhou forma após a empresa Transnordestina desistir da concessão que detinha para tocar o projeto, na década de 1990.
O secretário adjunto da Sedec, Silvio Torquato, detalha que após a devolução da concessão, o Estado de Pernambuco e Sindicato da Indústria da Construção Civil local (Sinduscon) decidiram convocar os sindicatos da construção civil dos estados que seriam diretamente afetados: RN, Paraíba, Pernambuco e Alagoas – apelidado de Nordeste Oriental. “No Rio Grande do Norte não foi construído um metro sequer de ferrovia”, lembra Torquato, que foi convidado a participar da reunião entre os Estados e as unidades do Sinduscon pelo presidente da entidade local, Sérgio Azevedo.
O empresário e presidente do Sinduscon-RN, Sérgio Azevedo, diz que a obra é de grande importância para o Estado. “Seria ótimo para fomentar a economia do Estado, fortalecer a infraestrutura logística, para transportar produtos-chave para a região. É um meio de transporte sustentável, barato. Seria importante para a competitividade do Rio Grande do Norte. Claro que é preciso entender os fatores de viabilidade e fazer conta para o empreendimento. O Sinduscon-RN apoia a causa e quer trabalhar junto com o Governo do Estado para viabilizar a construção desse trecho”, afirma Sérgio Azevedo.
De acordo com a Sedec, a ferrovia poderá criar uma ponte mais rápida de escoamento da produção potiguar, como sal, frutas, setor de petróleo e gás, e componentes da energia eólica, além de conexão direta com o agronegócio e a pecuária do País. “A ideia é que seja uma rota Grossos/Mossoró/Sousa-PB/Missão Velha-CE/Salgueiro-PE/Eliseu Martins-PI, onde fica uma grande região produtora de grãos e uma grande região que é muito forte na pecuária. Isso já seria um grande mercado para o nosso sal. Seria uma rota muito boa, pensando no nosso desenvolvimento econômico e até mesmo do turismo”, destaca.
A Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), que também participou da reunião com os Estados, mostrou-se favorável à iniciativa. “O RN só alcançará seu ápice se dotado de rodovias duplicadas; ferrovias conectando polos estratégicos e nos conectando aos demais estados; aeroportos e portos eficientes. Neste sentido, toda e qualquer iniciativa que venha a dotar o RN de infraestrutura logística deve ser comemorada e incentivada”, aponta Roberto Serquiz, presidente da instituição.
Ele acrescenta que, com a nova ferrovia, o Rio Grande do Norte se faria presente na matriz produtiva do Nordeste. “Considerando que a ferrovia estaria nos conectando ao ramal da Transnordestina, o Estado estaria se integrando à matriz regional do Nordeste e, além disso, à região do Oeste potiguar, considerada a segunda mais industrializada do Estado; produtora de minérios e minerais não metálicos; com setor de petróleo pujante, além da fruticultura irrigada em expansão devido à política de distritos de irrigação na região”.
Fundação elabora proposta técnica preliminar
Diante da possibilidade, Silvio Torquato conta que o Governo do RN buscou uma parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), que elaborou uma proposta técnica preliminar, isto é, um estudo de demanda e de pré-viabilidade da ferrovia ligando Mossoró à Missão Velha-CE. O próximo passo agora é conseguir o financiamento de R$ 1,3 milhão para viabilizar o estudo, que seria desenvolvido pela FDC. Com essa proposta em mãos, o Governo teria respaldo para obter outorga de autorização junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e repassar a utilização para um ente privado, que teria a prerrogativa de construir e operar a estação.
O modelo seria uma espécie de Parceria Público-Privada (PPP), mas sem a necessidade de um leilão ou licitação, por exemplo, uma vez que com a promulgação da Lei nº 14.273/2021, institui-se o novo regime regulatório de autorização, voltado à exploração indireta do serviço de transporte ferroviário federal, mediante outorga em regime de direito privado, a ser formalizado por meio de contrato de adesão junto à ANTT.
Ainda não há prazos definidos. O secretário adjunto da Sedec ressalta que para tornar realidade o sonho da “nova ferrovia para o Oeste potiguar” a contribuição do empresariado do Estado será crucial. “Nós vamos apresentar o projeto à classe empresarial do Rio Grande do Norte, vamos ver o interesse dos empresários em operar essa ferrovia. O interesse nosso é para que seja, dentro da nova legislação, do marco regulatório, nós repassarmos para o grupo responsável. Isso é muito comum nos Estados Unidos, por exemplo”, argumenta Silvio Torquato.