A população brasileira com mais de 60 anos está crescendo e chegou a mais de 32 milhões no Censo do IBGE de 2022. Contudo, também tem sido crescente o índice de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) nessa faixa etária. De acordo com boletins epidemiológicos divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), na última década, de 2013 a 2023, houve aumento nos casos de sífilis (1.494,44%), hepatite C (180%) e HIV (103,57%) no Rio Grande do Norte. A hepatite B foi a única das ISTs monitoradas que teve uma baixa, de 30,76%.
Conforme o Ministério da Saúde, as ISTs “são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Elas são transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que esteja infectada”. São exemplos de ISTs: herpes genital, sífilis, gonorreia, clamídia, tricomoníase, infecção pelo HIV, infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), além das hepatites virais B e C.
À medida que essa população cresceu, novas dinâmicas surgiram e as preocupações com a saúde e o bem-estar dessa faixa etária acompanharam esse crescimento. O médico infectologista André Prudente, diretor do Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, conta que essa população, agora mais longeva e com mais qualidade de vida, mantém suas atividades sexuais.
Conforme Prudente, as pessoas idosas têm sido cada vez mais infectadas, o que se deve a uma série de razões. A atividade sexual aumentou, no entendimento dele, com a introdução de medicamentos para a impotência sexual em homens e mulheres. Com a volta dessas práticas, surge a preocupação com a saúde sexual dessas pessoas.
“Os idosos, principalmente os que têm mais de 70 anos, foram criados, foram adolescentes, adultos e jovens, em uma época que coincidiu, por exemplo, com Woodstock, da liberação sexual”, diz André. Segundo ele, “essas pessoas têm incutido na sua cultura o não uso do preservativo. E agora elas, voltando à atividade sexual, um idoso de 70 anos, que não tem mais a sua parceira ou seu parceiro fixo, [transa] com outras pessoas, profissionais do sexo, por exemplo. E, como eles têm dificuldade de usar preservativo, acabam ficando bastante sujeitos a infecções sexualmente transmissíveis”.
Já o urologista Maryo Kempes destaca que falar de sexualidade com a população idosa ainda é um tabu, até mesmo dentro das unidades de saúde. “A gente acha que essas pessoas não namoram, que essas pessoas não têm relação sexual, que essas pessoas não têm doença, e têm. Então, a gente tem que abordar o paciente da terceira idade da mesma maneira que abordaria um adulto. A gente tem que falar sobre isso, a gente tem que falar no consultório – o geriatra, o clínico, o urologista, a ginecologista”, pontua.
Esse pensamento é acompanhado pela médica infectologista Monica Bay: “Os profissionais de saúde precisam ver essa população como sexualmente ativa, perguntar ativamente sobre práticas sexuais, orientar sobre o uso de preservativo e outros métodos de prevenção, como a PrEP [Profilaxia Pré-Exposição] e a PEP [Profilaxia Pós-Exposição de Risco à Infecção pelo HIV e pelas Hepatites Virais]”, avalia Monica, que também é professora do Departamento de Infectologia da UFRN.
Maryo Kempes vê o aumento de ISTs em idosos como preocupante e acredita que ainda pode existir subnotificação de casos. A notificação dessas infecções é compulsória, ou seja, o profissional de saúde que diagnosticar é obrigado a comunicar o caso, que entra nas estimativas oficiais. “O médico é obrigado a diagnosticar uma sífilis para qualquer paciente, notificar. Muita gente não notifica. Então, acredita-se que haja subnotificações”, afirma.
Imunidade é um fator de alerta
O médico André Prudente orienta que os profissionais de saúde ofereçam os testes de ISTs, também, à população idosa. Com esses exames, explica, é possível diagnosticar uma infecção que ainda não tenha manifestações clínicas antes que ela se agrave. O diagnóstico tardio complica o tratamento das pessoas idosas, que já têm baixa imunidade.
Fonte: boletins da Sesap/RN