Por Fábio Vale / Repórter do Jornal de Fato
A relação entre violência e política é uma problemática presente em todo o país. No Rio Grande do Norte, a situação não é diferente. O estado também tem registrado um quadro preocupante de insegurança letal que atinge pessoas que ocupam cargos eletivos. E uma ação criminosa ocorrida nesta semana no interior potiguar, que resultou nas mortes de um prefeito e do pai dele, retomou a atenção para um considerável histórico de violência no RN contra políticos.
Um levantamento dá conta de que o Rio Grande do Norte contabiliza, ao menos, quatro casos de maior repercussão de prefeitos assassinados durante o exercício do mandato, desde os anos 2000. Um dos casos considerados de mais destaque ocorreu no ano de 2001, quando Aguinaldo Pereira, prefeito de Caraúbas, foi assassinado junto com a esposa e seguranças em uma emboscada em uma estrada da região.
A ação criminosa foi atribuída ao bando do assaltante de bancos Valdetário Carneiro, morto em dezembro de 2003, em uma alegada troca de tiros com a polícia. Em 2005, outra morte resultante de violência letal intencional de prefeito potiguar durante o exercício do mandato vitimou João Dehon da Costa Neto, então chefe do executivo municipal de Grossos, também na região Oeste do estado.
A informação da época é de que ele foi morto por engano durante uma operação da Polícia Civil. O terceiro caso no Rio Grande do Norte de prefeito assassinado durante o exercício do mandato, desde os anos 2000, foi registrado já em 2023. Na época, Joseilson Borges da Costa, mais conhecido como "Neném Borges", foi morto dentro de casa na cidade de São José do Campestre. O crime ocorreu em abril do ano passado e após meses de investigação, a Polícia Civil do RN divulgou que o ocorrido teria sido motivado pelo apoio do político às forças policiais no estado, no combate a uma facção criminosa com atuação no município do Agreste potiguar.
Um suspeito teria sido identificado, mas sem prisão cumprida.
8 prefeitos mortos
Um levantamento dá conta de que o estado tem um histórico de pelo menos oito assassinatos de prefeitos desde 1954, a maioria em cidades da região Oeste potiguar. A série de crimes dentro desse contexto vitimou inicialmente Lauro Maia, pai do ex-governador Lavoisier Maia, então prefeito de Patu, assassinado em Natal.
Já em 1983, Expedito Alves, então prefeito de Angicos e irmão do ex-governador do RN Aluízio Alves, foi morto em praça pública. Em 1991, José Gomes, então prefeito do município de Paraná, foi assassinado a tiros na calçada de casa.
E em 1998, Irosvaldo Carvalho, prefeito de Água Nova, foi assassinado em Natal. Os outros quatro casos mais recentes já foram reportados no começo desta matéria.
Crime em João Dias figura como segundo prefeito assassinado no RN em pouco mais de 1 ano
A ação criminosa registrada no começo desta semana na cidade de João Dias, localizada na região do Alto Oeste potiguar, que resultou nas mortes do prefeito e do pai dele, fez o Rio Grande do Norte figurar como o segundo caso de chefe de executivo municipal assassinado no estado em pouco mais de um ano.
Candidato à reeleição nas eleições deste ano, Marcelo Oliveira foi o segundo gestor municipal potiguar assassinado em menos de dois anos. Ele foi morto a tiros na manhã da última terça-feira (27), em João Dias, junto com o pai dele, o ex-vereador Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos. Após o crime, quatro suspeitos de envolvimento direto no ocorrido foram presos e outras dez pessoas detidas com armas e munições, em diligências paralelas às investigações do caso.
Até então, a Polícia Civil do RN seguia sem apontar a motivação desse duplo homicídio. Em meio a isso, a outra candidata à prefeitura de João Dias, Damária Jácome, classificou o cenário como "momento crítico" e anunciou que se ausentaria da cidade junto com a família, mas se "colocando à disposição das autoridades responsáveis pela investigação".
E por meio de uma Carta Aberta publicada em rede social, o irmão e filho das vítimas, Jessé Oliveira, que é presidente da Câmara de Vereadores de João Dias, lamentou as perdas dos dois familiares e disse que diante do ocorrido tinha a responsabilidade de liderar a cidade.
"Este não era o caminho que eu esperava trilhar, e não posso negar o peso que isso traz, especialmente em um momento de tanta dor. Mas, apesar da angústia, tenho em mim a firme determinação de continuar o legado que meu pai e meu irmão construíram com tanto amor e dedicação", afirmou Jessé Oliveira na nota.
Violência nas eleições
Um estudo nacional sobre violência política e eleitoral no Brasil entre 2016 e 2020 mostrou que foram registrados 327 casos de violência nas eleições, incluindo 125 assassinatos; 85 ameaças; 33 agressões; e 59 ofensas. A região Nordeste liderou no total de notificações, com o Rio Grande do Norte figurando com três ocorrências classificadas como assassinatos e atentados; e duas ameaças. E outro mapeamento nacional referente ao período de 2020 a 2022 apontou que foram contabilizados no país 523 casos de violência política; incluindo 163 assassinatos e atentados contra agentes políticos; 151 ameaças; 94 agressões; e 106 ofensas. Somente no RN foram nove ocorrências dentro desse total, sendo um assassinato; dois atentados; cinco ameaças; e uma agressão.