Dois policiais militares do Rio Grande do Norte estão atuando pela estabilidade da segurança pública em uma missão de paz promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Bangui, capital da República Centro-Africana.
No país africano desde novembro de 2022, o capitão Moreno Montenegro, de 39 anos, e o major William Danilo, de 40 anos, estão atuando na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), que visa proteger os civis após uma violenta guerra civil, iniciada em 2014 e encerrada em 2019, após acordo assinado pelo governo do país e 14 grupos armados.
“Essa experiência é muito rara. Difícil de se conseguir. Além disso, é muito enriquecedora pessoal e profissionalmente. Acredito que o Montenegro que chegou aqui não é o mesmo que vai voltar”, afirmou o capitão.
Em missão há 291 dias, completados nesta quinta-feira (14), os oficiais da Polícia Militar do Rio Grande do Norte atuam em atividades distintas no contexto da segurança pública local, em conjunto com policiais de vários outros lugares do mundo, que são especialistas neste tipo de missão. Eles complementam o trabalho ao exército e aos policiais do país.
Pelas capacitações técnicas em seu currículo, o capitão Montenegro foi selecionado para atuar no corpo e instrutores de polícia da ONU, ele é responsável pela formação continuada das unidades policiais, e por promover a manutenção das práticas de treinamento com países cooperados.
Capitão Montenegro durante treinamento com militares que atuam na missão africana — Foto: Cedida
Em outro setor, o major William é responsável pela recepção, instalação, cadastramento e orientação inicial a todos os policiais que chegam na missão na República Centro-Africana.
Essa é a segunda experiência de ambos em missões de paz. Em 2018, Montenegro serviu em Guiné-Bissau, William serviu no Sudão do Sul.
“A experiência anterior nos permite executar com mais tranquilidade nossas funções, por já conhecer os desafios de adaptação, rotina, interação com pessoas de diferentes nacionalidades e línguas”, explicou Montenegro.
Major William reunido com representantes de tropas militares — Foto: Cedida
Em sua primeira missão, o major William criou uma campanha de arrecadação camisas da seleção brasileira para refugiados na África. A divulgação aconteceu logo após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de Futebol.
“Aqui o pessoal gosta muito de futebol e do Brasil. Eles sabem até os nomes dos jogadores”, falou o major a época.
Major William e crianças africanas com camisas do Brasil — Foto: Cedida
Inicialmente, os dois potiguares foram ao país africano em um período de atuação de um ano, e agora dependem de uma autorização do Governo do Rio Grande do Norte e do comando da Polícia Militar do Estado para permanecerem cedidos.
“Estamos prontos para continuar o bom trabalho aqui na África, completando dois anos em novembro de 2024. Nesse momento aguardamos a definição se vamos seguir na missão ou retornaremos ao Brasil”, completou o capitão.
Capitão Montenegro em instrução técnica aos militares na República Centro-Africana — Foto: Cedida
Segundo dados da Polícia das Nações Unidas (UNPOL), cerca de 11 mil policiais estão distribuídos em 14 missões de paz da ONU nos diferentes continentes do mundo.
Atualmente, o contingente conta com apenas sete policiais brasileiros. São três na República Centro-Africana, dois no Sudão do Sul, dois na Somália. Destes, além dos dois potiguares, Amazonas, Bahia, Pará, Tocantins e Santa Catarina cederam, cada um, um policial para a missão.
Os países que recebem tropas da ONU estão envolvidos em contextos de riscos, incluindo áreas em conflitos políticos e até militares. Para estes policiais em missão, o trabalho acontece de domingo a domingo em regime de exclusividade. Em virtude do cenário da República Central-Africana, após o término do serviço diário, os militares são aquartelados e impedidos de sair a noite até o início do dia seguinte de trabalho.
A última seleção para policiais da Organização das Nações Unidas no Brasil aconteceu em dezembro de 2021, com validade de dois anos. Após o término deste período, caso o Brasil não realize uma nova avaliação junto a ONU, não terá mais nenhum brasileiro habilitado em missão estrangeira.
Nessa etapa, realizada em Brasília, capital do Distrito Federal, capitão Montenegro e major William foram aprovados para vagas de militares com fluência nas línguas inglesa e francesa. As outras vagas estavam para militares com fluência apenas em inglês.
Caso seja aprovado nos testes, o militar realiza o Estágio de Preparação para Missão de Paz (EPMP), realizado anualmente no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), localizado no Rio de Janeiro. Em seguida, tem início a etapa da ONU para realizar exames médicos, tomar vacinas e cumprir a burocracia necessária.
G1RN