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O Brasil finalmente encantou na Copa América. A goleada de 4 a 1 no Paraguai deixou o Allegiant Stadium, em Las Vegas, encantado com um time muito mais móvel e ofensivo do que na estreia e o tão esperado brilho de Vinícius Jr. em sua melhor atuação com a amarelinha.
O bom desempenho é explicado por duas mudanças promovidas por Dorival Júnior na escalação. O lateral Wendell entrou no lugar de Guilherme Arana, e Raphinha deu lugar a Savinho no time que começou jogando. A troca de nomes mudou ligeiramente a forma de atacar da Seleção e permitiu que Vini e Rodrygo tivessem mais espaços para chegar no gol.
A troca mais importante foi a entrada de Wendell. Ele jogou de forma diferente de Arana. Ao invés de ficar pelo lado esquerdo a toda hora, o jogador procurou espaços pelo meio, quase como um terceiro homem junto de Gomes e Guimarães. Naquele setor, ele tabelava com Paquetá e Vini, que começou bem aberto pelo setor, como você vê na imagem.
Além de ter um homem a mais no meio, Dorival soltou de vez Bruno Guimarães. O volante do Newcastle teve liberdade para apoiar e assumir uma função de criação. Com isso, a bola redonda lá de trás chegava em Paquetá e Bruno Guimarães se movimentando e Wendell e Viníciuis trocando de posição para bagunçar a defesa do Paraguai.
Primeiro gol é exemplo da movimentação pensada por Dorival
Mesmo com um pênalti perdido, o time não sentiu o emocional e continuou a amassar o adversário. O primeiro gol deixou tudo mais fácil e nasceu justamente dos pés de Guimarães e da movimentação de Wendell. Tudo começa com Bruno pegando a bola dos dois zagueiros e de Danilo, lá atrás. A marcação não sobe.
A movimentação de Wendell foi precisa: ele começa pelo lado, depois dá o lado a Vini e busca triangular com Bruno, como na imagem acima. Quando percebe que a bola vai chegar perto da área, o lateral abre e permite que Vini se movimente entre as linhas, nas costas dos volantes adversários. O Brasil tem Paquetá e Rodrygo na área, e Savinho pronto para receber uma invertida de lado.
É uma organização muito mais bem distribuída e criativa do que contra a Costa Rica. Vini não está mais marcado no lado porque tem alguém que vai trocando de posição com ele. Arana não tem essa característica. É um lateral que não joga tanto pelo meio e prefere chegar de surpresa no lado, quase como Savinho na imagem acima.
Depois do movimento de Bruno, Paquetá prende a bola de costas e Vini novamente circula absurdamente livre até chegar na cara do gol. O famoso "dois um", uma triangulação simples que é difícil de acertar...mas quando dá certo, é lindo de ver e impossível de marcar. Não deu outra: gol!
Dorival explicou as mudanças e fez uma observação sobre a dupla João Gomes e Bruno Guimarães: os dois se revezavam de lados e Gomes muitas vezes ficava mais atrás para que Bruno pudesse chegar na frente:
Trazer um lateral para o meio como elemento surpresa não é novidade na carreira de Dorival. Ele foi um dos primeiros treinadores a fazer esse movimento no Brasil lá em 2015, com Victor Ferraz e Zeca no Santos. Nos trabalhos de sucesso, como Flamengo e São Paulo, Filipe Luís e Rafinha faziam essa função.
Esse Brasil mais solto e direto se repetiu em todos os gols com a bola rolando.
Perceba que a liberdade de movimentação não é algo do nada. Ela é planejada, treinada e segue algo maior: uma orientação coletiva para ter espaços bem preenchidos. No lance abaixo, João apoia porque Bruno está lá atrás e Wendell chega por dentro porque Vini está no lado. Nada disso é fixo. Todos podem ir trocando de posição, desde que o time tenha gente na área e gente mais atrás para deixar a bola redonda.
As mudanças permaneceram até no segundo tempo, com Dorival rodando o time: Raphinha e Douglas Luiz no lugar de Savinho e Bruno Guimarães. Depois, Andreas na vaga de Paquetá e Endrick na de Rodrygo. Um 4-4-2 mais ofensivo ainda, com jogadores rodando, girando e trocando de posição.
Enfim, o Brasil na Copa América.