Por Ângela Karina – Jornal de Fato
A estudante Maria Luiza Carlos Maia Cabral, de apenas 18 anos, tem um sonho de cursar faculdade no exterior. Consciente de que sonhar apenas não basta, há alguns anos vem tomando atitudes que a aproximam de torná-lo realidade.
Aluna aplicada durante a trajetória da Educação Básica, com boletim escolar de encher de orgulho os pais Maria Nelice Carlos Maia e Domingos Sávio Cabral, a jovem cursou a etapa do Ensino Médio em escola pública, no Centro Estadual de Educação Profissional Professora Lourdinha Guerra, em Nova Parnamirim, na Grande Natal, e vem colecionando conquistas pela dedicação aos estudos.
As sementes em busca do conhecimento foram plantadas e regadas à custa de renúncias, de lágrimas, mas, sobretudo, de muita determinação na meta traçada pela própria estudante. Assim, a recém-formada Técnica em Redes de Computadores buscou aproveitar cada oportunidade, sendo que o que mais chama a atenção é o fato de ser dela a iniciativa em correr atrás dessas oportunidades, e não uma imposição dos pais.
Quando ainda cursava o 9º ano do Ensino Fundamental, Maria Luiza começou a se dedicar ao objetivo de fazer faculdade no exterior, pois sempre acreditou que essa seria a melhor oportunidade para desenvolver um perfil profissional de excelência dentro da Engenharia e Energias Sustentáveis, área escolhida por ela para atuar.
“Quem planta, colhe”, como diz o ditado. E é chegada a hora das primeiras colheitas para essa jovem de futuro brilhante. Destaque como aluna laureada; oradora da turma; Jovem Protagonista; segundo lugar em todo o estado no Concurso Jovem Senador e primeiro lugar pelo CEEP Professora Lourdinha Guerra. Foi também nessa escola pública técnica estadual que se envolveu em atividades extracurriculares diversas e desempenhou o papel de monitora de português, redação, inglês e matemática.
Em 2022, ainda cursando o 2° ano do Ensino Médio, ganhou uma bolsa para fazer um intercâmbio em Houston, no estado do Texas, Estados Unidos, pela AFS e BP, para estudar sobre STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e sustentabilidade; entre outras premiações.
Em 2023, fez parte do programa Futuras Cientistas, participando da banca de estudos para o ENEM, oportunidade em que melhorou o desempenho em outras disciplinas. Mas não só isso. Maria Luiza realizou prova de proficiência para ingressar em universidades internacionais, momento decisivo nessa jornada dos últimos quatro anos.
Como se não bastassem esses resultados já alcançados, como uma espécie de coroação ao árduo processo em busca do sonho, Maria Luiza conseguiu a proeza de ser aprovada em 14 universidades, sendo 13 no exterior – em sua maioria com bolsas por mérito – e também na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no curso de Ciência & Tecnologia, a partir do desempenho alcançado no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Dentre esse leque de possibilidades, a University of North Florida (UNF), no estado da Flórida, Estados Unidos, foi a escolha feita por Maria Luiza para cursar Engenharia Elétrica. A ida dela estava prevista para janeiro de 2025, mas foi antecipada.
Ela embarcará em agosto deste ano para concretização de um sonho, por obra do acaso, no mesmo mês em que há exatos 61 anos o reverendo e ativista negro Martin Luther King proferia o discurso histórico “Eu tenho um sonho”, na “Grande Marcha por Emprego e Liberdade”, em Whasington, Estados Unidos, por direitos civis para negros e negras.
Em razão dessa antecipação, a estudante precisa da nossa ajuda para arcar com os custos iniciais do visto de estudante e as passagens. Para isso, a jovem teve a iniciativa de fazer uma rifa de uma caixa de som JBL Partybox Encore Essential. Cada bilhete custa R$ 10,00 que pode ser adquirido por meio da chave PIX (84) 994554610.
Por meio do perfil @maria_luiza_carlos no instagram, a estudante compartilha a jornada rumo à concretização desse sonho. Siga e fique por dentro dessa inspiradora história de dedicação aos estudos como meio de alcançar os resultados pretendidos.
Diante de uma história tão inspiradora, DOMINGO foi conversar com Maria Luiza que, gentilmente, concedeu entrevista. Confira:
Como e quando surgiu o sonho de fazer faculdade no exterior?
Esse sonho foi projetado por influência da minha mãe, principalmente. Por ela ser professora de inglês, incentivou-me a aprender novos idiomas, visto que assim surgiriam diversas oportunidades e portas seriam abertas mais facilmente. Em 2019, ela conseguiu uma bolsa da Fulbright para fazer um intercâmbio para os EUA. A partir daí comecei a me espelhar ainda mais em seus feitos. Comecei a me dedicar ainda mais no desenvolvimento do meu inglês e a sonhar em estudar no exterior, porque após o retorno da minha mãe notei o quanto ela havia mudado; a experiência deu-lhe um brilho diferente. Aquele brilho que só pessoas que bem-sucedidas que haviam recebido o devido reconhecimento demonstravam. Então, durante a pandemia decidi que queria isso para minha vida, queria no futuro ter orgulho das minhas conquistas e trabalhar com algo que me trouxesse satisfação. Em decorrência disso, comecei a estruturar o processo de aplicação. Em 2022 realizei meu primeiro grande feito do processo. Fui aceita para participar em um programa de verão na área que tanto amava e ainda mais, com uma bolsa que cobria todos os custos, lá pude aprender mais sobre sustentabilidade e STEM, além de ter a experiência de passar um dia inteiro na NASA. Quando voltei do intercâmbio, as coisas não pareciam as mesmas; uma porta havia sido aberta e eu não poderia mais fechá-la, e minha vida deixou de ser apenas aquela pequena bolha, tornou-se um mundo de possibilidades. O apoio de toda a minha família, dos meus pais, minha irmã, tias e primos, como também dos meus amigos, permitiu-me que esse sonho fosse cultivado.
Como se deu esse processo de preparação para atingir esse objetivo?
Foi um processo complexo e bem complicado. Pensei em desistir várias vezes, mas como não é um costume meu fui até o final. Minha mãe me disse várias vezes: 'aprenda a aproveitar o processo'. Isso foi difícil porque durante o processo recebi muitos não, tive crises de ansiedade, pessoas dizendo que eu deveria estudar para o Enem porque não podia fazer faculdade fora. Devido a isso, tive dificuldades para continuar a aplicação. Mas o meu propósito de Deus não me deixou sair da caminhada. O processo começou em 2020 no meu 9º ano, ano que nos Estados Unidos começa o ensino médio, quando comecei a estruturação do perfil, mantendo minhas notas altas e estudando para aprender inglês. Durante meu 1° e 2° ano do ensino médio pesquisei bastante para aprender como funcionava a aplicação para os EUA — é bem mais fácil encontrar informações para aplicar — analisei custos e tudo mais, além de continuar mantendo as notas em sua maioria acima de 8 na média das matérias. Também tentei buscar extracurriculares e participar de competições nas quais pudesse ganhar medalhas/menções honrosas. O 3º ano, o ano de aplicação, eu aprimorei tudo isso, escrevi redações, fiz as provas que eram solicitadas, melhorei minhas notas e busquei ajuda de pessoas que haviam sido aprovados em faculdades fora.
A escolha pela área de Engenharia e Energias Sustentáveis se deu por pesquisa de mercado ou aptidão?
Na verdade, desde criança sempre gostei de entender como os aparelhos eletrônicos funcionavam, inclusive uma vez desmontei um ventilador — recém-comprado — só para ver como era por dentro e depois demorei um século para remontar. Meu curso de interesse inicial era engenharia da computação, mas por gostar de mexer somente com hardware (componente físico dos dispositivos) e não tanto com software, apliquei para faculdades de engenharia elétrica, pois era diretamente relacionado com o que eu queria. Meu pai, por trabalhar no ramo de redes de computadores, o curso que fiz durante o ensino médio técnico, uma área diversa, mais especificamente por atualmente trabalhar com automação e iluminação residencial, foi a minha maior inspiração para seguir o mesmo caminho que ele. Nos últimos anos, em sua loja, ele trabalhou com energia solar e eu por ser uma pessoa que acreditava na importância da busca por uma sociedade no futuro mais sustentável, as energias limpas sempre chamaram muito minha atenção.
Almejar um perfil profissional de excelência ainda aos 14 anos e persegui-lo não é comum para uma jovem nessa idade, hoje aos 18 anos. De onde veio tanta maturidade?
Sempre escutei dos meus pais que minha irmã e eu precisaríamos desenvolver nossa independência, pois a única herança que eles poderiam nos deixar seria o valor investido em nossa educação e as lembranças de uma infância saudável. Então com toda certeza foi por incentivo deles eu poder ter a maturidade de transformar metas em realidades. É engraçado falar sobre eu ser uma pessoa com tanta maturidade. No cotidiano, costumo ser aquela pessoa 'imatura' que gosta de 'tirar onda' com os primos e outros familiares — inclusive sou constantemente chamada de imatura por causa disso, mas em um contexto de brincadeira — que tem dificuldade para cozinhar e gosta de conversar sobre assuntos aleatórios enquanto jogo com os amigos. Mas quando o assunto é voltado para planos de futuro, tudo sempre pareceu tão bem encaixado que me permitiu não apenas sonhar, e, sim, buscar conquistar. Penso ser o tipo de pessoa que consigo distinguir os momentos e as pessoas nas quais posso descontrair, como também sou dedicada e quando boto algo na cabeça, não costumo desistir até conseguir.
De onde veio a inspiração para traçar metas tão audaciosas?
Bom, parece até que a entrevista está voltada para o incentivo dos meus pais e familiares, mas realmente está. Sem o apoio deles, não seria metade da pessoa que sou hoje. Se demostro ‘maturidade’ é porque eles permitiram que eu pudesse me desenvolver e ser assim. Venho de uma família grande, principalmente o lado materno, do qual sou mais próxima. Meus avós maternos tiveram oito filhas e 19 netos. Inclusive, todos os fins de semana nos encontramos para passar tempo juntos, consequentemente, casa sempre lotada. Dessas filhas, algumas viraram professoras; as outras, como gosto de falar, pessoas que ensinam para o mundo real. Então, sempre tive uma forte influência de lutar pelo direito de uma educação de qualidade e aprendi desde cedo a conviver com a diversidade e ao redor de muitas pessoas, como também desenvolvi o senso de companheirismo. Já que, em diversos momentos de dificuldade financeira, fazíamos de tudo para proporcionar o melhor reciprocamente. Em decorrência a valores como esses, aprendi a aproveitar minhas paixões e habilidades para ser o tipo de pessoa que visa promover o bem-estar e possíveis melhores oportunidades para aqueles ao meu redor, permitindo-me traçar metas ‘audaciosas’.
Colher os frutos é um processo natural. Mas imaginava que seriam tão fartos assim?
Eu não imaginava tanto assim, por justamente em muitos momentos duvidar do meu potencial para tal. Realmente não esperava e até hoje estranho ter conseguido.
Como se sente ao conseguir a proeza de passar em 14 universidades, dentre as quais 13 no exterior?
Não sei bem explicar, mas penso que o sentimento é de orgulho. Mas independente da quantidade, se eu tivesse sido aprovada em apenas uma no exterior, já estaria mais tranquila, mesmo não tão satisfeita. Isso porque com essa aprovação teria forças para esse ano aplicar novamente e melhorar os fatores que acredito que necessitam.
O que a motivou escolher a University of North Florida (UNF) em detrimento das demais?
Eu não buscava uma universidade específica, mas eu tinha algumas expectativas para as instituições que iria aplicar. Sendo esses: gostaria de uma faculdade que oferecesse bolsas relativamente boas para estudantes internacionais; fosse em um lugar com um clima parecido com o nosso, pois tenho quase certeza que teria dificuldade para me acostumar no frio; uma faculdade não tão grande para que eu pudesse ter uma rede de contato melhor com os professores, porque acredito que por estar estudando em outra língua queria ter momentos para tirar dúvidas de forma mais simplificada; que fosse uma boa faculdade com relação ao curso; o último ponto seria que a faculdade precisava ter um nome que não parecesse estranho quando eu postasse e legal para eu usar o moletom da faculdade com orgulho. Então a UNF tinha justamente tudo isso e muito mais, a instituição é linda e entre as que apliquei a mais condizente com minha realidade financeira.
O esporte, por meio do judô, foi a válvula de escape para se manter sã nesse árduo processo em busca de um sonho?
O judô além de contar como extracurricular de impacto, por demostrar tempo de prática — faço judô desde 2012, porém em diversos momentos deixei de praticar por fatores externos — e paixão, já que sempre voltava a praticar, independente do tempo. Em 2020, havia parado por causa da pandemia e voltei ano passado, durante o terceiro ano do ensino médio. O judô servia como válvula de escape, realmente, era o momento mais calmo da minha rotina. Por causa do processo de aplicação eu não participei de muitas competições, inclusive, mesmo com o sensei me incentivando, optava por não competir.
Além dos estudos e do esporte, você ainda é engajada em projetos sociais. De que forma?
Além daquelas que participava na escola, meu currículo é um tanto quanto diversificado, com relação a engajamento em atividades extracurriculares. Era voluntaria no Girl up Natal — um projeto que conecta meninas para lutarem por igualdade de gênero — e no AFS comitê Natal, no qual conheci devido ao meu intercambio para o Texas e por paixão ao programa decidi fazer parte da equipe. Desde 2015 sou voluntária na igreja, inicialmente como coroinha e atualmente sou mestre de cerimônia, mesmo ano passado não tendo sido tão presente devido à aplicação. Também participei e trabalhei em encontros de jovens da igreja. Além disso, criei um projeto social para auxiliar jovens como eu sobre a importância do desenvolvimento de um projeto de vida coerente e de que existem também outras possibilidades de futuro além do ENEM. O bom de tudo isso era que todos os projetos que fazia demonstravam um pouco da minha personalidade, acredito que foi algo muito importante.
Qual o seu maior medo com relação ao futuro acadêmico/profissional?
Meu maior medo com relação aos próximos passos para o meu futuro acadêmico/profissional está relacionado com o medo de não estar presente pessoalmente para momentos especiais com minha família, meus primos, tias e amigos. Já imaginava isso desde quando comecei o processo, mas pensar que isso realmente irá acontecer me faz ficar um pouco nervosa. Outro também é porque dizem que engenharia elétrica é uma das engenharias mais complexas e por isso tenho medo de como conseguirei lidar com o curso e suas matérias. Mas como minha mãe costuma dizer: “o seu diferencial é que mesmo com medo, você vai e quando termina faz tudo como se não estivesse minutos antes desesperada”.
Qual dica você deixa para quem sonha passar pelo mesmo processo de cursar uma faculdade no exterior?
Nunca me considerei uma pessoa inteligente com relação aos estudos, mas sim uma pessoa que buscava aprender e entender o que estava sendo passado. Uma dica que daria para alguém que participará do mesmo processo é: não desiste, no final, sua dedicação e persistência contam mais do que se você for somente inteligente.
Nota de DOMINGO: Voa, Maria Luiza. Estaremos na torcida por você!
LISTA DE APROVAÇÕES:
Nome da Universidade + Localização
Barry University - Miami, FL, USA
Drexel University - Philadelphia, PA, USA
Florida Southern College - Lakeland, FL, USA
Hult University - Cambridge, MA, USA
Soka University - Aliso Viejo, CA, USA
Stetson University - DeLand, FL, USA
Stevens Institute of Technology - Hoboken, NJ, USA
Temple University - Philadelphia, PA, USA
University of Alabama - Tuscaloosa, AL, USA
University of Kentucky - Lexington, KY, USA
University of North Florida - Jacksonville, FL, USA
DCU International Foundation Program - Whitehall, Dublin, Ireland
University of Sunderland International Foundation Program - Sunderland, UK